segunda-feira, 24 de junho de 2013

Poderia ser carnaval, mas é manifestação!


Oi gente. Foto dos meus amigos lindos, companheiros de ‘aventuras’.
Essa foto foi tirada no dia 20 de junho, última quinta-feira, um dia histórico. Dia que o Brasil viveu a maior onda de protestos de sua história. E nós participamos!

Primeiro devo dizer que na quarta quase infartei de felicidade ao ver o pronunciamento dos governantes de São paulo e Rio de Janeiro, cancelando o reajuste das tarifas.
Sergio Cabral e Eduardo Paes, Geraldo Alckmin e Haddad sentiram a força do povo né? CHUUUUUPA!
Baixou!! Baixou!!
Alegria transcendeu!! VITÓRIA!

Na quinta-feira eu acordei tarde, comi, fiquei na internet durante a tarde, tomei um bom banho e fui pra Campo Grande encontrar com Jéssica e Fernando. Nós fomos para o protesto no centro da cidade. Fomos já tarde, por volta doas 17:30, quando já havia começado a passeata e também as agressões aos manifestantes, a cidade e a dignidade do protesto. Foi tenso. Eu estava tensa com tamanha covardia da polícia. Segundo meus amigos eu estava chata tamanho meu medo. 
O centro da cidade estava lindo, cheio de pessoas e cartazes geniais. Foi uma experiência muito boa. Andamos da central ao hospital de imagem. Onde conseguimos ver e sentir de longe o gás lacrimogênio. Podemos ver e ouvir os helicópteros e perceber a movimentação dos carros de polícia. Depois fomos até a Candelária observados pelo policiamento a margem das ruas. E da Candelária até a Cinelândia, quando passamos por maus bocados. Tivemos que correr de bombas e abaixar por causa dos tiros. De lá, depois de todo pânico, resolvemos voltar pra casa. Chegamos bem, graças a Deus, ou graças a sorte e ao distanciamento.
Sobre essa experiência escrevi um texto que estará disponível no final da postagem.

Na sexta eu acordei e fui logo pra UERJ. Só tive aula de jazz. Sai cedo e fui pro MAR, Museu de Arte do Rio, participar de uma palestra muito boa sobre a novela Saramandaia. Fazia tempo que eu estava querendo visitar esse museu. Não o vi por completo, mas percebi que é bem localizado e com uma vista bem bonita. Fui convidada pela Jéssica para o evento. Embora nem todos os participantes do seminário estivessem comprometidos em dialogar sobre o tema central, foi uma experiência que valeu muito a pena. Pelo autor Ricardo Linhares e pela ambientação que estava um delícia de divertida e bem feita. Foi muito bom! Eu gostei demais. De lá pegamos uma carona com o tio dela e eu fiquei pelo caminho. Fui pra Honório Gurgel, pra participar da comemoração surpresa do aniversário da Dani. Foi bem legal também. Tirando a parte que demorei mais de três horas pra chegar em casa, porque o único ônibus que tem de lá pra minha casa não tem horários regulares.
Cheguei tarde e fui dormir bem cansada.

Sábado eu acordei toda preguiçosa. Continuei acompanhando as notícias dos protestos on line e pela TV. Eu ia no protesto que aconteceu em Campo Grande, mas desanimei por motivos mil. A noite fui parar em um barzinho em Santa Cruz, com minhas amigas LINDAS, Iris e Bianca. Foi uma noite de jogar conversa fora. Quase cantamos no Karaoquê, e nos divertimos bastante. Só faltou uma fotoca pra registrar o momento.

Domingo eu acordei tarde, almocei em família, escrevi algumas coisas. Fiquei meio pra baixo. É como uma maré que sobe e baixa. Com o perdão da ignorância e do mal uso dos exemplos, parece coisa de dependente químico.
A verdade é que a gente não precisa dizer para as pessoas tudo que estamos sentindo. Por muito tempo eu não entendi isso, ou não conseguia guardar pra mim. Ai eu falava, falava, falava e as pessoas pareciam entender, mas não entendiam. 
Porque mesmo com muito boa vontade elas não conseguiam entender quase nada? Ninguém é a gente. O sentimento é uma coisa só nossa. E por mais que um ou outro nos entenda, nunca é algo por completo. E de tanto falar e ser pouco compreendida, eu cansei e entendi que eu não preciso mais falar. Fácil? Também não. É dolorosos. Porque se antes as pessoas não entendiam por que eu falava. Hoje não entendem porque eu não falo. E eu não falar não significa que eu não sinta, que eu não me sinta atingida e afetada. Eu ainda não sou indiferente. Infelizmente eu ainda perco o sono pelos mesmos motivos. E quando a briga é com o mundo é mais fácil do que quando a briga é com a gente. Agora só depende de mim. E eu vou continuar mostrando, só mostrando, que tá tudo bem. Tá tudo bem.
Domingo foi um dia todo em casa e com a cabeça lá fora.

Hoje, é dia de tentar resolver um monte de coisas. Organizar é o melhor a se fazer.
Boa semana a todos. 

Bj e um sorriso.

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Poderia ser carnaval, mas é manifestação!

Todo esse movimento de grande articulação popular começou com pequenas manifestações nos centros das cidades e teve como estopim o reajuste nas tarifas dos transportes. Primeiro fomos chamados de baderneiros. Disseram que aquele primeiro momento de um protesto menor, e alguns conflitos mais agressivos, não representavam os reais interesses do povo. Que não era algo espontâneo e que não iria a frente.
Os que disseram isso não tinham entendido a realidade da coisa. Não tinham entendido que era, de fato, um basta as diversas circunstancias que vem fazendo do nosso cotidiano político social algo insustentável. Era o início de um despertar! Foi, e ainda está sendo, algo grandioso!
Tenho convicção de que não foi SÓ pelos vinte centavos no aumento das passagens de ônibus. Sei que isso é bem repetitivo, mas é necessário. Muitos ainda não entenderam que É UMA ONDA DE PROTESTOS PELO ESGOTAMENTO. É pelo transbordar de nossos copos que não suportavam mais serem reabastecidos pelo desrespeito e conformismo. 
Eu gostaria de ter participado da manifestação do dia 17, segunda feira. Mas por vários motivos não o fiz. E entendo que aquele momento foi crucial para que os governantes cedessem e cancelassem o tal reajuste, além de começarem a entender que tratava-se de algo que merecia a devida atenção. Quando vi a notícia e ouvi ‘os caras’ dizendo tudo aquilo, mesmo sem me agradar com todo o discurso, senti enorme alegria. Vitória!
Mesmo antes de tamanha festa eu já estava muito feliz, muito satisfeita e verdadeiramente entusiasmada com tudo isso que está nos acontecendo. Constantemente arrepiada com cada imagem, com cada cartaz. Os olhos cheios d’agua com cada espaço que conquistamos nos meios de comunicação.
Eu não me lembro de nenhum momento até então que tenha despertado em mim, nos meus amigos e na minha família tanto orgulho de ser brasileiros. Eu, foliã desde muito nova, nunca tinha visto o centro da cidade tão cheio.
Acompanhei tudo que eu pude e segui postando minhas felicidades e incentivos nas redes sociais. E não me senti nem um pouco diminuída enquanto cidadã participante. 
Acredito numa militância digital sim. Acredito que postar e compartilhar coisas também é uma forma, não a única, de contribuir e dar foças para as questões políticas do país. Ora, afinal não somos impregnados pela cultura produzidas nesses ambientes virtuais? Então quando participamos dessa produção estamos sendo ativos também. Aliás penso que devemos muito aos ambientes on line, as redes sociais. As mesmas ferramentas tão criticadas e acusadas de serem alienadoras, foram fundamentais em nossa articulação mobilizadora. Estar on line também se tornou uma forma de fazer política.
Ok, eu sei que em outrora, quando não existiam tais ferramentas, as articulações não deixaram de acontecer. Mas não devemos anular nosso tempo. Utilizamos muito bem o que temos hoje. Respondendo a esses colunistas, mostrando a eles que valemos muito mais que os vinte centavos, combinando encontros gigantescos pra mostrar quão "pequenos e inofensivos" nós podemos ser e mostrando a presidente que não se tratava apenas de um ‘recado’, era mais que isso, muito mais!
Mas mesmo sem desmerecer os militantes on line, não fiquei satisfeita em estar somente de frente com as telas. Fui ao centro da cidade do Rio de Janeiro pra ficar de frente com as pessoas. No dia 20 de junho eu participei da maior onda de protestos da história do Brasil.
Eu fui. Mas não sou pretensiosa a ponto de acreditar que eu vi tudo que aconteceu, e que só aconteceu o que eu vi. Nem mesmo as nossas poderosas emissoras de TV deram conta de tudo, embora elas queiram que acreditemos que elas conseguiram cobrir cada acontecimento em seus detalhes, elas não conseguiram!
Foi uma noite bem (in)tensa. E, mesmo com os pesares, também foi uma experiência muito boa e significativa na minha vida. Eu queria e precisava dar uma opinião de quem viu de perto.
Vi muitos cartazes lindos, criativos, incisivos, divertidos e inteligentes, muitas pessoas ‘vestindo o Brasil’ literalmente. Quanta emoção!
Vi famílias inteiras unidas. E embora os jovens fossem maioria, vi também muitas senhoras e senhores, crianças de todas as idades, grávidas, e uma classe tímida de artistas. Vi muitos brancos... Gostaria de ter visto mais negros e índios. 
Vi policiais e guardas municipais desconfiados e outros simpáticos. Vi a tropa de choque, o BOPE e os vândalos. 
Não deixei de sentir orgulho e muito entusiasmo. Mas não devo esconder que senti muito medo. Senti o cheiro gás lacrimogênio, ouvi muitos barulhos de bombas, gritos, músicas e tiros. Tudo que eu senti não tirou minha alegria, mas deu ao meu sentimentalismo um tanto a mais de realidade.
Tropa de Choque, homens com armas de fogo, bombas, o caveirão, granadas, dentre outros, para conter manifestantes que estavam em sua grande maioria portando apenas cartazes de protesto? Não conheço outro nome pra isso a não ser covardia. Nos momentos de conflitos, não consegui sentir outra coisa não ser medo.
Sim os vândalos eram MINORIA, e facilmente identificados até mesmo por nós manifestantes pacíficos. Eles eram a laranja podre na grande fruteira que os pessimistas tanto almejavam. Eles quiseram roubar a legitimidade do protesto e quase conseguiram. Eles roubaram a cena. Roubaram a segurança e o clima coletivo que deveria reinar entre todos. 
Como eu já disse, eu não vi tudo. Mas o pouco que vi eram atitudes violentas partindo da polícia. Para ‘controlar’ os manifestantes os fardados utilizaram uma força desproporcional. Eles atacavam a TODOS da mesma forma. 
A polícia militar se sentia acuada pela quantidade de manifestantes. E os manifestantes se sentiam encurralados pela tropa de choque, que tratava a todos os manifestantes como vândalos.
Mas quem são esses vândalos? São todos iguais? O que os move? Estão revidando agressões ou só tendo prazer em depredar? São todos infiltrados? A mídia nos mostra como se todos eles fossem iguais. Não são.
É claro que quem saia as ruas somente pela violência merece nossas críticas. Merecem polícia e punição. Eu concordo que eles não representam os manifestantes. A grande maioria era contra a violência. Todavia acho que eles merecem um olhar mais atento/cuidadoso.
Sobre o discurso que diz que os vândalos representam o ‘Brasil sem Educação’, que é uma das principais insatisfações que motivaram a nossa tomada as ruas. E que eles são uma dose de veneno que o Estado está provando, e que Ele mesmo ‘preparou’... Tenho receio. Cabe um pouco mais de prudência nessas afirmações/opiniões.
Não pensem que os vândalos são um desprazer só do Brasil. No mundo inteiro, inclusive em países cuja educação está sendo prioridade governamental, estão acontecendo protestos e eles fazem parte de toda essa dinâmica. 
Eles fazem parte de nós, do nosso todo. O todo que tanto queremos mudar. E ouso dizer que merecem até uma certa complacência. 
Tolero as pessoas que foram encurraladas dentro das estações de metrô, aqueles que foram presos em pontos de ônibus esperando pra voltar pra casa depois de participarem do movimento, aqueles que foram severamente agredidos por fardados que deveriam promover a segurança, e de tanto serem agredidas revidaram. Ninguém consegue sofrer tantas agressões quietinho!
Não há revolução pacífica. E eu já enxergo o que estamos vivendo como uma revolução, uma reformulação, que está nas ruas não só do sudeste, uma região muitas vezes privilegiada, mas de todo o país.
Perdoem-me se eu estiver errada, mas penso que se não fossem os radicais do primeiro momento (aquele movimento menor, sem tanta articulação), não teríamos tanta atenção midiática. Não sei se a mobilização aconteceria com tanta força... Com o governo que temos, passividade demais não funciona. Cuidado pra não confundir manifestantes pacíficos com manifestantes passivos. Os passivos não manifestam.
É desproporcional a quantidade desses manifestantes violentos em relação a quantidade de manifestantes pacíficos, ainda bem. Eu não tolero a ação dos infiltrados, dos que agridem pura e simplesmente pelo prazer da depredação. Não digo que funciona destruir coisas. Mas digo que também não funciona apanhar calado! 
E justamente por resolver romper com tantos anos de ‘porrada silenciosa’, nós conseguimos muito mais do que o cancelamento dos reajustes da tarifa dos transportes. Conseguimos acordar o gigante, sair da frente da TV e dos computadores, levantar dos nossos sofás e tomar as ruas. Conseguimos colocar as novelas e a partida de futebol da seleção em segundo plano, atrás do desejo de um país digno. 
Conseguimos conquistar o orgulho das gerações anteriores a nossa e o reconhecimento dos nossos professores, filhos e alunos. Conseguimos grandes repercussões ao desobedecer a vontade da nossa mídia vendida e os obrigar a nos mostrar, mesmo que da forma deles. Conquistamos visibilidade na mídia internacional. E, pasmem, nem é carnaval.
Conseguimos, na última quinta-feira, inviabilizar a transmissão das novelas - sim, em nosso país não ‘permitir’ que as novelas vão ao ar é uma vitória. 
Nos convencemos de que não vale mais a pena arrumar e enfeitar a casa para os visitantes, escondendo pra baixo do tapete toda poeira, enquanto nós morremos de tanta alergia quando eles saírem. Não vale a pena sorrir para as visitas e nos mordermos quando eles forem embora. Não os tratamos mal, mas também não fingimos que está tudo ótimo.
Se ser militante é bater e apanhar, eu não fui militante. Se era necessário mais do que minha presença e minha intenção, mais do que acompanhar a multidão e compartilhar das opiniões de insatisfação da maioria. Se era preciso aparecer na TV e estar na linha de frente... Então fui só expectadora. Eu vi, senti, vivenciei.
Eu vi pessoas protestando pela saúde, pela educação, contra a PEC 33, contra a PEC 37, contra as condições rodoviárias do país, contra a homofobia desmedida do Feliciano, contra Renan Calheiros, gente a favor do Estado e da educação laica, da reforma agraria dentre outras insatisfações. Todas as causas são legítimas, dignas de manifestações e protestos. Mas vamos devagar com o andor, porque o santo é de barro. E ainda de um barro bem frágil. 
Penso que não falta ideologia, mas é que são muitas razões, uma salada.
Quando vamos para as ruas por tudo, acabamos indo as ruas por nada. Não é pessimismo radical. É verdade. Tenhamos foco, porque se a gente não tem o mínimo de foco, perde a razão. 
Tenhamos clareza de que esse é sim um movimento político. O movimento é apartidário, mas não significa que sejamos contra partidos políticos, não é antipartidário. Um país sem partidos é um país comandado por militares. Ditadura, lembram? O movimento não possui simpatia partidária, mas isso não significa que os partidos sejam nossos inimigos, vilões. Não existe democracia sem os partidos políticos. 
Impeachment? O que é isso gente? Vamos com calma. Tenho uma triste notícia para muitos de vocês: Joaquim Barbosa não está disponível para assumir a presidência. Não confundam as coisas!
Não queremos uma mudança de presidente, queremos uma mudança de atitude! Uma nova cultura política. Uma nova cultura de identidade nacional. O que nos moveu foi a indignação. Chega de jeitinho brasileiro. Não adianta ir para a passeata e levantar cartaz se a gente continua furando fila e ‘molhando’ a mão do guarda.
Acho mesmo que só conseguiremos dimensionar nossos ‘atos’ na posteridade, quem sabe nas páginas da disciplina de história dos livros didáticos. E que não seja só através dos livros didáticos. Torço para que essas repercussões não cessem. Que tudo isso ecoe nas urnas de votação. 
Que tal procurar saber quem é seu candidato antes de votar? E depois cobrar dele as promessas. Seria um movimento ainda mais lindo que esse!
Que não seja uma história repetida. Que seja uma história nova... 
Que não seja como aquele ‘camarada’ que tanto roubou dos nossos pais, como presidente. Que foi tirado do poder pelo povo. E que agora está pra ser reeleito senador em Alagoas.
Se eu pudesse desejar algo para o Brasil eu desejaria ATENÇÃO, MEMÓRIA e CORAGEM. Pra perceber todas as ‘coisas estranhas’ que sim, estão por toda parte, só esperando nossos devaneios. Pra não esquecer. E seguir em frente sempre. Falta de atenção, memória, coragem e articulação. 
E só pra fazer link com o título, eu concordo com Joãozinho Trinta quando disse “Um país capaz de fazer um carnaval como o nosso é capaz de tudo!”

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