domingo, 7 de outubro de 2018

Tautarugã



Maria acorda cedo, eu acordo junto.
Fiquei um tempão observando ela olhando as mãos, como se descobrisse uma grande novidade. E falando pra caramba, falando a língua dos bebês, o bebenes.
Maria tá cada dia maior, mais esperta.
Enquanto eu ficava observando eu senti um medo absoluto.
Na verdade desde que Maria chegou eu sinto muito, muito, muito medo, de muitas, muitas, muitas coisas.
Mas hoje foi um medo maior, que me fez chorar.
Eu temo pela vida dela. Temos pela minha vida e pela vida de TODAS as pessoas que eu amo. Mas a vida da Maria me faz sentir um medo maior, um medo absoluto mesmo!
Eu tenho muito medo do que pode ser o nosso futuro.
Medo das pessoas que nos odeiam simplesmente por sermos quem somos, mulheres pretas. Medo do que essas pessoas podem nos fazer sofrer ainda mais.
A Maria é linda, muito linda, cada dia mais pretinha e corajosa. E eu sinto medo por saber exatamente do que as pessoas que nos odeiam são capazes de fazes com mulheres pretas corajosas.
Até hoje a gente não sabe quem matou Marielle.
E hoje a gente pode colocar pra governar esse país pessoas que declaradamente desejaram a morte dela.
Olha, eu tô sentindo um medo que eu nunca senti antes.
Eu acho que a Maria sabe que eu tô com medo... E eu gostaria que ela nunca soubesse, que ela nunca entendesse, que ela nunca sentisse o motivo do meu medo.
Esse medo que eu sinto pela vida dela, pela nossa família, eu queria que a Maria nunca conhecesse isso.
Se você ama qualquer pessoa que possa ser ameaçada por essa onda de ódio que está faminta querendo nos mastigar e engolir, por favor, pense bem.
Tô fazendo um pedido desesperado mesmo.
Se você tem algum apreço por mim, pela minha filha, pela minha família.. a gente tá se sentindo ameaçado, e por causa dessa ameaça eu tô implorando, não vota no ódio não.

Bj* e um sorriso

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