domingo, 12 de junho de 2016

Homofóbicos NÃO PASSARÃO!




Boa tarde gente. Vos apresento o Bonde Lindo!


Foto de ontem, eu, minhas meninas e nossos novos amigos de infância.
A noite de ontem tinha tudo pra ser mais um dos nossos rolés.. o programado era Baile Black Bom na Pedra do Sal, que a gente AMA e depois show do Emicida no Crico Voador, que a gente também AMA!
Mas a noite tomou outro rumo, e no final a gente AMOU.
Segue o relato de tudo que aconteceu.

"Rolé de sábado à noite cazamiga.
Metrô. A amiga que sempre atrasa, atrasou mais que o de costume. A gente sempre se espera. 
Um metrô pára na estação. Quando quase não dava mais tempo, eu e uma outra mana resolvemos entrar.

Vagão vazio, mas com algumas pessoas em pé. 
Um casal de rapazes, um em pé e outro sentado. 
Vaga um lugar, e o rapaz que estava em pé, prestes a ocupar o lugar ao lado do seu companheiro ouve a ameaça de um homofóbico. O cara grita em alto e bom som “SE CONTINUAR DE VIADAGEM AQUI EU VOU METER PORRADA!”

Comequeé? Vai dar porrada em quem mermão?! Vai não! Ah mas não vai mesmo. Você não vai bater em ninguém! E além disso, vai respeita-los! E isso não é favor não querido.

“Ah mas, mas, mas”

Mas o quê?

Os meninos nitidamente assustados. Geralzão no esporro, dizendo pro cara que aquele dia ele não conseguiria.. Na nossa frente não! Não vai rolar porrada! 
E se me atacá eu vou atacá!

Confusão e gritaria no metrô. Que azar do agressor..

Há quem defenda o opressor, mas tem muito mais gente lucida percebendo o absurdo. O vagão estava cheio de gente linda, solidários e de luta.

Já tô fora de mim, extrapolando braços e palmas. Minha amiga que é grande, tornou-se maior. Já era.. Vídeos sendo gravados por passageiros, gente gritando com a gente e gente gritando pela gente.

“Ah, é que eu sou militar” Migo seu loko, você se orgulha disso?

“Cês vão ver quando sair da estação” Vocês quem? Vai acontecer o que? Vai sair geral junto! O bonde tá formado e tu vai ter que aturar!

Oito pessoas bem dispostas a não permitir nenhum tipo de atrocidade.
Aline e Arthur, Harrison e Rodrigo, Eu e Bianca e o casal, Yago e Hyago.
Na estação seguinte dois agentes do metrô pedem pra gente sair do metrô.

“U ki ki tá contecenu?” Explicamos pra um agente o que aconteceu. E o agressor explicou à outro agente a versão dele. 
Os carinhas tentam uma conciliação. 
NÃO, a gente quer polícia!

O macho agressor começa a diminuir a voz. Tenta negociar conosco mais de uma vez, testando a nossa paciência. 
NÃO.

Aparece um policial militar. Mais uma vez o agressor vem falar conosco.
NÃO.

Depois de muitas tentativas o opressor se desespera tchooooooooraaaaaaaa!

“SE eu errei me desculpa, me perdoa. Eu trabalho, tenho família”

A gente sabe como é migo, a gente também tem isso tudin. E a gente não quer suas desculpas não.

“Quanto eu posso dar pra vocês?”

Sério isso? Suborno! E a crise hein? Crise pra quem né?

Sem caô.. 190.

Um papinho com o PM pra ele tentar entender.. 
“Não é por eles só não, é por nós! Porque se alguém se acha no direito de agredir o outro por causa de demonstrações de afeto, imagina o do que ele é capaz de fazer?
Queria que o senhor entendesse que tem gente MORRENDO porque ama uma pessoa do mesmo sexo. Tem noção disso? Pessoas que morrem porque amam! 
A clandestinidade do amor é inadmissível.
Moço o senhor sabia que nós pretos não éramos vistos nem como gente né?! Faz pouco tempo, na verdade as vezes ainda é assim.. Pois é, teve que ter muita luta pras coisas chegarem ao que temos hoje. Eles precisam lutar também. E empatia é o mínimo”

1, 2, 3 horas.. Cadê a viatura? 
A demora foi tanta que até o policial estava irritado, ele já estava além do seu horário por causa do nosso caso. Até que o próprio PM resolve fazer as ligações pedindo a viatura. Mais um tempão.

É bacana como a PM lida até com seus próprios homens..

“Viu moço como é complicado contar com a polícia.. Imagina se eles tivessem sido agredidos fisicamente?!”

Durante a espera os agentes do metrô e o policial conversam muito com o agressor, mó atenção mesmo. Até agua os caras serviram.. E o nosso bonde como? só observando.

O macho se aproxima mais um monte de vezes. 
"Seje menas!"

Ligamos para o disk cidadania lgbt rj (08000234567) e recebemos aum ótimo atendimento, cheio de orientações.

Cadê a viatura? Querem mesmo que a gente desista né? 
Mó pena, a gente não vai desistir não migos. E se reclamar a gente comemora o dia dos namorados aqui aguardando a PM, todo mundo juntin, com direito a beijaço!

Depois de muita reza braba a viatura chegou. 
Policias nitidamente impacientes, e meio sem entender como o policial que estava conosco na estação chamou uma viatura para aquele caso.
Bora pra 17º, em São Cristóvão. 
Todos muito preocupados, medo do que a polícia poderia fazer no caminho.. Mas fé no pai que o inimigo cai..
Yago e Hyago foram de viatura com o opressor e o bonde lindo foi de taxi.

Chegando na delegacia o PM de cara já deu voz primeiro ao agressor.
“Eu estava no metrô e vi esses meninos se beijando. Não gostei, e quando fui falar eles deram um tapa na minha careca e me chamaram de crioulo!”

Oi? Hahahahahahha Globosta tá te perdendo hein migo!

O cara (que não sabemos se é o delegado ou inspetor) mal ouviu os meninos, e já disse pro PM levar geral pra Cidade da Polícia, lá no Jacaré.

Eles iriam, mas a gente queria acompanha-los. Mas como? Que táxi ia entrar no jacaré de madrugada?

Antes de entrar novamente na viatura pra ir pra Cidade da Polícia um dos policiais pergunta ao outro “Tem colete a prova de bala pra eles?”

Na semana passada uma menina foi baleada, dentro de uma viatura porque estava indo prestar queixa no mesmo local.

Minha cabeça dói na hora. Dói muito! Desespero. Desespero a ponto de não entender se aquilo era uma ameaça. 
Pedimos que os meninos não entrem na viatura. O policial age com truculência e leva os meninos.

Na mor ral, a gente pirou! 
Beyoncé, Oxalá, Rihanna, Oxóssi.. rezamos pra todos os deuses! E como a gente não é fraco, e a macumba da nega é boa, fomos atendidos e deu tudo certo.

Os meninos conseguiram abrir o boletim de ocorrência, e a denúncia que poderia se reverter, foi registrada da maneira correta.

Aguardamos os meninos voltarem com muita aflição. O que estava acontecendo ali era por eles e por nós.. Era pelas minhas tias, era pelo meu tio, pelo meu melhor amigo, era pelo meu primo. Era pela gente.

Porque existir na nossa sociedade dói muito, dói muito mesmo. Porque a gente que é preto, pobre, favelado, gay, mulher, trans, gordo, deficiente físico, a gente existe de teimoso. E é de teimosia que a gente vence!

Depois que o nosso casal chegou teve muita emoção e abraços. Gratidão por todos os lados. 
Por último brindamos uma cerveja enfrente a delegacia, como a certeza de que homofóbico NÃO PASSARÃO!"

Deixo aqui os relatos das outras pessoas que vivenciaram tudo conosco.
Yago Patrício:
https://www.facebook.com/YPatriicio/posts/1712020099059069

Hyago Bandeira:
https://www.facebook.com/hyagobandeira/posts/1137592989637092

Aline Novais:
https://www.facebook.com/alinovais/posts/1155889034473844

Léo Peixoto:
https://www.facebook.com/peixotoleo/posts/1008131975908435

Bj* e um sorriso

2 comentários:

  1. Fiquei sabendo desse triste acontecimento pela página Quebrando o Tabu, ao pesquisar sobre acabei esbarrando em seu blog! Irei acompanhar, relato emocionante! Parabéns

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