terça-feira, 8 de agosto de 2017

I Congresso de Estudos da Infância - Diálogos Contemporâneos UERJ RESISTE!



Boa noite gente!

Essa foto é de hoje, foi clicada enquanto eu apresentava meu trabalho no I Congresso de Estudos da Infância - Diálogos Contemporâneos
Eu apresentei e coordenei a sessão.. na verdade eu me emocionei e mais uma vez me apaixonei pela UERJ e pela docência.
Sabe quando tem aquela fase triste da vida.. o que é que consegue te dar aquele alívio, aquele suspiro de alegria, de esperança?
Quando cê tá mal, o que você sabe que vai te melhorar? Quem você sabe que vai te fazer bem?
Essas respostas dizem muito da gente. E no meu caso a minha primeira resposta é o samba, a sala de aula, a dança e a UERJ. Ah.. a UERJ. 
Foi na UERJ que eu aprendi a importância da minha profissão e tudo que eu faço em sala de aula, foi na UERJ que eu redescobri a dança e o samba, na UERJ que eu mudei a minha história de vida.

Foi a UERJ que me fez (e ainda faz) as perguntas mais decisivas da minha trajetória, e foi lá que eu respondi as minhas maiores questões.

Nesse momento tão triste da minha vida profissional - vida que eu nunca quis dedicar a sala de aula - que percebo que os meus momentos de alívio são exatamente na sala de aula. Nas salas de aula da UERJ, e na sala de aula da escola pública que a UERJ me ensinou a amar.
Essa UERJ que tão humilhada e cansada ainda trabalha, realiza, instiga..

Hoje ver a UERJ que tanto vem sofrendo com golpes e planos de destruição da educação pública, pulsando.. eu não consigo explicar o que eu senti. É maravilhoso ver a UERJ viva! Maravilhoso!
Mas pra minha falta de jeito de escrever e traduzir esse sentimento eu vou deixar um texto da minha orientadora que diz exatamente o que eu sinto..
Texto de abertura de Rita Ribes:

*

Diz Eduardo Galeano em 'Celebração da voz humana 2":
"Tinham as mãos amarradas, ou algemadas, e ainda assim os dedos dançavam, voavam, desenhavam palavras. Os presos estavam encapuzados; mas inclinando-se conseguiam ver alguma coisa, alguma coisinha, por baixo. E embora fosse proibido falar, eles conversavam com as mãos.
Pinio Ungerfeld me ensinou o alfabeto dos dedos, que aprendeu na prisão sem professor:
– Alguns tinham caligrafia ruim – me disse -. Outros tinham letra de artista. A ditadura uruguaia queria que cada um fosse apenas um, que cada um fosse ninguém: nas cadeias e quartéis, e no país inteiro, a comunicação era delito.
Alguns presos passaram mais de dez anos enterrados em calabouços solitários do tamanho de um ataúde, sem escutar outras vozes além do ruído das grades ou dos passos das botas pelos corredores. Fernández Huidobro e Mauricio Rosencof, condenados a essa solidão, salvaram-se porque conseguiram conversar, com batidinhas na parede. Assim contavam sonhos e lembranças, amores e desamores; discutiam, se abraçavam, brigavam; compartilhavam certezas e belezas e também dúvidas e culpas e perguntas que não têm resposta.
Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada."
* * *
Quem dera o conto de Galeano pudesse ser, para sempre, recontado apenas no tempo pretérito. No entanto, vivemos novos golpes na América Latina. Vivemos um golpe de Estado no Brasil. Um golpe que, por estarmos dentro dele, não temos como dimensionar o seu tamanho, mas cujo projeto de nos conduzir ditatorialmente a calabouços solitários do tamanho de um ataúde conhecemos muito bem. Esse projeto se mostra na fragilização da soberania nacional, no arruinamento das políticas sociais, na insistência por uma educação amordaçada, no ódio pela democracia.
E é preciso lembrar, com disse Amilcar Gigante, que o contrário da democracia não é apenas a ditadura: é o fascismo, o racismo, o machismo, a LGBTfobia, a xenofobia, o ódio de classe, a hierarquização dos saberes, as muitas formas de amordaçar a voz humana. Democracia não é apenas uma forma de governo. É também uma ética cotidiana.
A UERJ, esta UERJ, é uma universidade situada ao lado das linhas de trem que fazem o diálogo com o subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, cidade que, à despeito dos seus cartões postais, não é apenas voltada para o mar. A UERJ tem sede também na Ilha Grande, em Resende, Friburgo, Teresópolis, São Gonçalo e na Baixada Fluminense. A UERJ são muitas gentes, etnias, nacionalidades, naturalidades, peles, cabelos, gêneros, identidades, religiões, culturas, muitos projetos de vida. A UERJ é pioneira no oferecimento de cursos noturnos, na interiorização do ensino superior e nas políticas de ação afirmativas. Pioneira em ter um Departamento de Estudos da Infância, por entender que, além de se fazer presente no ensino, na pesquisa e na extensão, a Infância nos convoca a uma gestão mais sensível.
Em que pese as tensões políticas internas inerentes a toda instituição, a UERJ tem a vocação de ser uma universidade popular numa sociedade tão desigual. Talvez por isso mesmo a UERJ seja hoje o laboratório de um golpe que, sabemos, não começa nem se esgota aqui. Sem receber os recursos devidos pelo governo do estado – governo golpista – mais uma vez precisou adiar o recomeço das aulas. Seus docentes e servidores, somando quatro salários em atraso, encontram-se em greve, na luta por questões trabalhistas e pela defesa de uma universidade pública, gratuita e democrática. Nossos alunos, que são maravilhosos, são os professores das escolas públicas (e privadas) que aqui formamos na utopia de que a educação seja a experiência de não se deixar amordaçar, não amordaçando as crianças.
Se, inicialmente, a ideia de infância, nos remete ao infans, supostamente aquele que não tem fala, o que temos aprendido cotidianamente com as crianças é que é preciso celebrar a voz humana. As crianças falam pela boca, pelas mãos, pelos olhos, pelos poros, pelo riso, pelo choro, por onde for... pois o nascer da voz humana, com o vigor infantil de enunciar pela primeira vez, não encontra quem o detenha.
Nasce aqui o I Congresso de Estudos da Infância. Chorando a plenos pulmões, um pouco assustado, já que não é fácil nascer numa conjuntura como esta, mas é um choro forte de quem mostra que está vivo e chama para a luta. O choro da vida, que não será calado, que não será amordaçado, pois assim como o riso, desestabiliza, destrona e humaniza. Todo nascimento, lembra Hannah Arendt, é como um milagre: implica não apenas aquele que chega, mas também o novo recomeço que essa chegada potencialmente abre para todos. Que o Congresso de Estudos da Infância, ao longo de sua história que aqui se inicia, busque fazer justiça à voz humana, celebrando democraticamente a sua polifonia.

*

É isso! É isso que explica tanta coisa e que eu não saberia dizer.. porque só sei sentir.
É isso que justifica todas as muuuuitas vezes que eu falo que A UERJ MUDOU A MINHA VIDA!
É sobre o que eu sou e o que eu tento ser todos os dias em sala de aula e no mundo.

UERJ RESISTE!

(Oh, o Congresso rola até o dia 10 e está imperdível! Mais que recomendo, convoco!
❤)

Bj* e um sorriso

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