sexta-feira, 3 de maio de 2019

Enfim, MESTRA


Enfim, MESTRA.

Quando eu passei para o mestrado, minha cabeça deu uma sacudida. Eu sabia que estaria ocupando um lugar que historicamente nunca foi pensado para mim.

Depois disso a minha vida deu um monte de sacudidas.

Passei para um concurso. Outra sacudida, pensei que fosse ter que escolher entre estudar e trabalhar (como ocorreu na época da graduação). Não foi preciso abandonar nenhum dos dois, mas o preço que paguei foi caro. Um ambiente de trabalho que nitidamente se incomodava com minha presença e me adoeceu.

Um namoro fora do planejado. Outra sacudida, a gente nunca sabe o tamanho do risco que é gostar de alguém.

A relação familiar fragilizada, a maior sacudida de todas.

Uma gravidez! O mundo todo resolveu sacudir!

Minha família deixou a casa que moramos por 20 anos para tentar se reconstruir. Uma mudança quase forçada. Uma sacudida triste.

A separação dos meus pais. Uma dor profunda. A sacudida que mais doeu.

O nascimento de um bebê e tudo que vem junto com esse acontecimento. Sem parar de cursar a graduação, e sem parar de cursar o mestrado, hoje vejo quão loka e corajosa eu fui.

Um governante feito de ódio chega ao poder. O país todo sacudido. Um medo constante. Uma ameaça constante. A saúde mental que já não era muita, evapora.

Todos os dias enormes dificuldades, emocionais, afetivas e psicológicas. Muitas dificuldades, muitas! Todas que vocês podem imaginar.

Foram dois anos que pareceram 20. Foi tão difícil conseguir concluir gente, mas tão difícil!! Por todas essas sacudidas, durante o mestrado minha vida mudou muitas vezes.
E por isso, finalizar esse ciclo significa muito mais do que um título.

Durante todo esse percurso o samba esteve comigo. E eu estive com com as pessoas que estão ao meu lado na foto. Como sou grata por fazer parte de um grupo de pesquisa de pessoas tão queridas e companheiras!

Eu tenho certeza que essa conquista é minha e de mais um monte de gente. Da minha família, principalmente, e quando falo família me refiro aquela de laços sanguíneos e laços de afeto. Mas também é uma conquista das pessoas iguais a mim, pretas, pobres, estudantes de escolas públicas e mães.

Olha onde a gente pode chegar!
OLHA!
O tanto de gente que se esforçou para nos manter em submissão e FRACASSARAM.
Sim, ontem eles fracassaram mais uma vez.
Ontem os tantos anos de coisificação da nossa humanidade, que quase nos fez acreditar que a gente não era capaz, fracassou!
Bem feito.

Um pouquinho de paz aos nossos ancestrais.
Um pouquinho de esperança. Um tanto de responsabilidade para os que estão vindo no futuro.

Obrigada ao grupo de pesquisa Infância Cultura e Contemporaneidade. Muito obrigada à professora Rita Ribes, à Núbia Oliveira e à professora Mailsa.
Muito obrigada a TODAS as pessoas que foram me ouvir falar da minha pesquisa!
Muito, muito, muito obrigada ❤️

Minha mãe e minha vó vão continuar me tratando igual, com a gentileza de um cavalo. Eu vou ter que continuar pedindo a benção das minhas tias e de todos os mais velhos. Meus amigos continuarão gritando na minha cara, falando uns palavrão brabo comigo.
Agora os racistas.. ah meu amor, só atendo por MestrA.

A UERJ MUDOU MINHA VIDA!
VIVA A UNIVERSIDADE PÚBLICA! 🖤

_______

Adivinhem quem vai dormir bem mestra hoje?
Adivinhem quem fez uma belíssima apresentação de pesquisa, cheia de emoção, verdade e elogios?
Adivinhem quem teve a dissertação aprovada com indicação de publicação?
Adivinhem quem teve a alegria de contar com uma sala cheinha de pessoas queridas e atentas para ouvir falar? 

Eu mesma, neta de Carlota e Jandira, filha de Jussara e Jorge, irmã de Tainá e mãe de Maria!

Muito, muito, muito, muuuito obrigada aos amigos e familiares que compartilharam comigo desse momento tão bonito! 🖤
Orgulhosa de mim!!

Bj* e sorriso

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